terça-feira, 15 de abril de 2014

O GRANDE MORDOMO




Epá... eu sei que o filme já saiu há algum tempo... mas eu cá só o vi agora: O Mordomo.
O raio do filme ficou-me a pairar na cabeça durante o dia seguinte e ainda hoje, passados três dias, me vem à cabeça.

Que tinha ouvido boas criticas, lá isso tinha. E ao que parece eram mesmo verdadeiras e merecidas.
O filme é bom. 
E quando são histórias baseadas em factos verídicos, fico mesmo "assarapantada" com estes filmes.
Mesmo que coloquem lá qualquer coisita a mais do que aconteceu na realidade para dar ênfase à coisa... há ali sempre a história de alguém. E claro que ninguém vai contar uma história baseada em factos verídicos como se fosse só ficção.



Por isso, fico chocada quando vejo estas histórias. 
Como é que aquilo aconteceu mesmo? Como é que as pessoas têm a capacidade de superar tantos obstáculos? Normalmente é o que se vê neste tipo de histórias. 
Mas a verdade é que é mesmo assim. As pessoas têm capacidades escondidas que só vêem ao de cima quando são necessárias. Muitas delas não sabemos que as temos até nos confrontarmos com certas e determinadas situações. Essa é que é essa. 
E eu que o diga! A mim também me perguntam muitas vezes: como é que és capaz? Como é que ainda andas aqui e ainda te consegues rir às vezes? 
A verdade é que consigo. Mas a verdade é que há pouco tempo cheguei ao meu limite e tive que pedir ajuda. Eu queria resolver tudo sozinha, fazer tudo sozinha, mas cheguei à conclusão que em certas alturas precisamos de ajuda, nem que seja um ombro amigo para nos amparar quando estamos preocupados demais ou a sofrer com alguma coisa. Nem que seja isso. Precisamos disso. As pessoas precisam umas das outras. 

Este filme retrata a história de um homem que foi caminhando por entre situações complicadas até chegar à Casa Branca (nos EUA). O homem foi para lá como mordomo porque era a única coisa que sabia fazer: servir os outros. E como o fazia tão bem, acabou por ter o seu auge na carreira ao trabalhar na Casa Branca. Esteve lá 30 anos. 

O filme retrata ainda a época em que o racismo era chocante naquele país. 
O mordomo era preto - e aqui tenho que fazer uma ressalva: nunca sei se havemos de dizer preto ou negro. Só acho que dizer que uma pessoa é de cor, é que não tem muito sentido. Bom... vou antes dizer negro.
Pronto. O homem era negro. 




A história começa com ele ainda miúdo a trabalhar no campo como escravo, como tantos outros negros. Certo dia a mãe é violada pelo patrão branco e o pai, que tenta afrontar o homem, é morto com um tiro na cabeça. A criança (o mordomo) assiste a tudo.


A dona da casa salva-o do campo e põe-no a trabalhar dentro de casa como criado. As regras são rígidas. Tudo tem que ser bem feito, ao pormenor e dos escravos criados não se pode ouvir um ai. Têm que trabalhar em silêncio, não podem dizer palavra, apenas têm que servir às ordens dos patrões da casa. 


Um dia o miúdo já rapaz, resolve fugir dali e ir à procura de outra vida. E afinal depara-se com outro problema: ninguém lhe dá trabalho na cidade porque ele é negro. 
O rapaz andou a deambular durante uns tempos, cheio de fome. A certa altura a fome era tanta que resolve partir uma montra para se deliciar com os bolos que lá estão expostos. Valeu-lhe um outro negro, empregado do estabelecimento (um hotel), que o encobriu e ainda lhe arranjou trabalho por lá, mais uma vez a servir os brancos. Depois muda-se para outro hotel - de luxo - e dá-se bem. Tão bem que é referenciado para ir trabalhar para a Casa Branca. É assim que chega lá. Os conselhos e as ordens são sempre os mesmos: não falar, fazer tudo com descrição e no máximo silêncio. Não contar a ninguém aquilo que ouve naquelas salas onde os presidentes conversam sobre assuntos importantes. 


Mas o homem tem uma família: mulher e dois filhos, dois rapazes com ideais muito distintos, muito diferentes. Um luta por direitos iguais entre brancos e negros e o outro, pelo contrário, é a favor da pátria e vai servir o país na guerra do Vietname. Resultado: o primeiro passa anos a ser preso por causa das lutas que trava a favor dos direitos dos negros e o segundo morre a lutar pela pátria. 
A mulher entrega-se ao álcool porque o marido dá mais importância ao trabalho na Casa Branca do que à família (isso depois muda). 

Ou seja, aquele homem vive em constante sofrimento! 
O pai é morto, a mãe deixa de falar depois desse dia (o mesmo em que foi violada), um dos filhos é manifestante e passa o tempo entre as manifestações e a prisão... e o outro filho morre pelos motivos contrários ao do irmão - na guerra pela pátria (os EUA). 
No fim do filme, já idoso e reformado, morre-lhe a mulher - ali à sua frente. 
Mas durante todos aqueles anos, o mordomo continua a desempenhar as suas funções na perfeição.


O que me impressionou nesta história? Apesar de todos os desgostos que tem ao longo do tempo, aquele homem continua a trabalhar impecavelmente. Apesar de ouvir certas conversas dos presidentes a quem serve e com as quais não concorda, mantém a sua postura e não diz um ai. 
Por outro lado, impressionou-me a forma como os negros eram tratados e humilhados só pela sua cor de pele: em todos os sítios públicos havia um espaço para os brancos e outro para os negros, como existem agora as zonas para fumadores e não fumadores, tal e qual. Não se podiam misturar brancos e negros em parte nenhuma. Nada. Em sítio nenhum. Até os bebedouros públicos estavam divididos: um para os brancos e um para os negros. 
E hoje tudo aquilo nos parece estranho, quase irreal. 
Pelo meio cabeças rolaram - aquelas de quem partiam ideias de igualdade entre raças - o presidente Kennedy ou Martin Luther King, por exemplo. 


Tudo isto, toda esta luta para no final termos precisamente um negro como Presidente dos Estados Unidos da América. Mas até lá, muito se lutou. E ao mesmo tempo observamos aquele mordomo que tanto sofreu. Trinta anos depois de estar na Casa Branca, quando percebeu que já não pertencia àquele lugar, reformou-se, simplesmente, sem nunca se revoltar.




Grande filme. Grande história. Grandes ensinamentos. Toda a gente devia ver esta obra cinematográfica: o Mordomo



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